A pessoa consultora [Dev/QA/BA/UX/PM]
“Change is difficult. Not changing is fatal” - William Pollard
Sendo uma agente de mudança
Como parte de uma das minhas tentativas de aprofundar meu entendimento sobre as experiências que a Thoughtworks quer prover para seus clientes, nos últimos dois meses parei para refletir sobre todo um conjunto de nuances que está por traz da única palavra que diferencia um developer de um consultant developer.
Deveria ser só uma palavra. Apenas dez letras. Contudo, quando posta em prática, essa palavra revelou ter múltiplos sentidos. Mas pode ficar ainda pior. Na Thoughtworks não somos apenas pessoas desenvolvedoras. Muitas de nós são desenvolvedoras, e ao mesmo QAs. E ao mesmo tempo BAs. E UXers. E IMs. E até mesmo PMs. É assim mesmo que funciona.
Como consultant developers, queremos entregar um código bem projetado com qualidade e totalmente funcional. Como consultant QAs, queremos que esse pedaço de código tenha total qualidade. Como BA consultants queremos que o código funcionando atenda às expectativas e prioridades do cliente. Como UX consultants, queremos ter certeza de que as necessidades dos usuários estão sendo atendidas e revolucionar a maneira como as pessoas usam esse pedaço de código. Como IM consultants, queremos o feedback contínuo do cliente sobre a maneira como o código está funcionando para que possamos melhorá-lo de maneira ordenada. Como PM consultants queremos ter certeza de que todos então felizes e trabalhando de maneira a entregar algo que vai encantar o cliente e também alcançar seus objetivos de negócio.
Mas e esta palavra, consultant, que está em todo o lugar? Como consultor, o que eu quero? Para responder essa questão tive que pensar um pouco mais sobre qual é a verdadeira proposta de valor da Thoughtworks. E acabei me dando conta que a Thoughtworks faz muito mais que entregar software. Embora a entrega seja uma parte importante do nosso negócio, nós queremos ir além disso. Queremos mudar a maneira como software é feito. Queremos liderar a inovação de tecnologia no mundo. Não queremos que os nossos clientes apenas recebam o código que nós produzimos para eles. Queremos que eles se juntem a nós na missão de revolucionar a TI.
E para isso, nós precisamos de consultores.
Consultores têm outras características importantes que não estão relacionadas ao seu título oficial. Como mencionamos antes, existem muitas outras palavras escondidas na sombra de consultor. Depois de alguma pesquisa, chegamos em sete palavras que, para nós, descrevem as capacidades essenciais que uma pessoa consultora deve desenvolver.
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Responsabilidade. A habilidade de agir como se o produto ou projeto do cliente fosse dele mesmo. Imagine o projeto como seu próprio investimento, como sua própria startup. Não para você trabalhar 80 horas por semana nele. O propósito não é gastar mais energia do que se pode no projeto, mas olhar para o projeto com a responsabilidade e seriedade que o dono tem. Sinta a ansiedade do cliente para ver o projeto feito. Olhe para as necessidades como se você estivesse financiando tudo. No final das contas, obviamente, é o cliente quem decide e quem dirige o projeto. Ao mesmo tempo, devemos colocar todo nosso esforço em ajudá-lo a decidir.
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Comunicação. Palavras têm um papel central para cumprirmos nossos alvos. Vamos estar, a maior parte do tempo, lado a lado com o cliente ajudando a entregar ao mundo um serviço ou produto inovador. Uma pessoa consultora deve dominar a arte do diálogo. Deve ser capaz de comunicar ideias, justificá-las, e de defender suas suposições.
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Compreensão do domínio do negócio. Como consultores queremos ter uma influência no design do produto. Queremos adicionar nossa própria visão à maneira como o problema em questão pode ser resolvido. Queremos ajudar o cliente a inovar e ser bem sucedido no seu negócio. Como uma condição para atingir tudo isso, precisamos entender o negócio do cliente. Talvez precisemos estudar o tipo de mercado com o qual estamos lidando, ler livros e artigos especializados e até mesmo entrar em contato com vários especialistas na área.
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Processo e metodologias. Ter uma linha de pensamento definida para o processo de desenvolvimento do produto é uma coisa que vai ajudar a garantir que todos os envolvidos estejam na mesma página. O problema é que há muitas opções de metodologias dentre as quais escolher. Como consultores, devemos saber quais são essas opções, e decidir entre elas qual é a que melhor se encaixa no contexto. Devemos adotar Scrum? Ou Kanban? Como podemos ajudar o cliente a entender os benefícios de cada uma dessas alternativas e descobrir qual é a melhor para o ambiente do cliente e necessidades do produto?
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Facilitação. Reuniões vão ser uma constante no processo de desenvolvimento de um produto, desde o início, geralmente começando com uma inception. Haverá reuniões com especialistas de domínios, usuários, responsáveis pelo projeto, e outras pessoas interessadas no produto, além de reuniões com o time em si. A habilidade de ajudar todos a falar e expressar suas opiniões, sem se perder da pauta da reunião, é essencial. Facilitação inclui ter e seguir um bom plano para a reunião, escutar ativamente, construir empatia com os stakeholders, usar um bom conjunto de exercícios e atividades que vão ajudar as pessoas a atingir o resultado esperado, usar recursos visuais (esboços, desenhos, quadros, etc).
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Coaching e mentoring. Muitas vezes, consultores vão se ver em uma situação em que eles precisam guiar o cliente em uma certa direção. Pode ser que seja algo mais técnico, como um treinamento em uma linguagem ou framework. Pode ser, por outro lado, que seja algo relacionado ao negócio, como um princípio de inovação que a gerência precisa adotar. Influenciar e ajudar os outros a acharem a solução adequada é uma outra habilidade que uma pessoa consultora precisar ter.
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Soft skills. Soft skills se referem a um conjunto de atitudes que dizem respeito aos relacionamentos entre pessoas. Quando duas ou mais pessoas estão trabalhando juntas, além das coisas relacionadas às tarefas que elas estão fazendo, existe a forte interação entre elas - e a isso também se deve prestar atenção. Soft skills inclui se importar com a outra pessoa, ser paciente no treinamento, saber como lidar com conflitos, dar feedback aberto e também estar aberto para receber feedback e se adaptar à situação apresentada.
Pode ser que você já seja uma pessoa consultora. Nesse caso, estas ideias têm o objetivo de desafiar você a pensar mais sobre a importância do que você faz. Quando você desenvolve a atitude certa e exercita as habilidades corretas, você pode alguém que realmente transforma as pessoas a sua volta e o negócio no qual você está atuando.
Se você ainda não é uma pessoa consultora, bem, eu diria para você abrir a sua mente. Considere que onde quer que você esteja trabalhando, oportunidades de ser influente e transformador podem ser encontradas a qualquer momento. Espero que estas reflexões tragam algumas ideias sobre o que você pode fazer daqui pra frente. Tenho certeza de que o mundo vai precisar cada vez mais de todos os tipos de profissionais que sejam, ao mesmo tempo, consultores.
Ao escrever este artigo, me sinto em dívida com Linda Luu (@LindaKLuu) e Toby Clemson (@tobyclemson) pelas incontáveis conversas sobre o assunto enquanto estávamos no cliente. Seus feedbacks, conselhos e liderança foram inspiradores. Vocês sabem que sempre serão meus mentores.
Aviso: As afirmações e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade de quem o assina, e não necessariamente refletem as posições da Thoughtworks.