Como a Thoughtworks Brasil Ajudou na Luta Contra o Ebola
A Thoughtworks é uma empresa global de consultoria de software, presente em 13 países ao redor do mundo. Somos quase três mil pessoas, espalhados em mais de 30 escritórios.
Nossa missão é alinhada com a justiça econômica e social. Ou seja, entregamos software sob medida para nossos clientes, sempre com a preocupação de causar um impacto positivo na vida das pessoas e revolucionar o mercado de TI.
Na semana do dia 3 de Novembro de 2014, um time da Thoughtworks Porto Alegre se engajou em mais uma missão para ajudar a mudar o mundo. Dessa vez o objetivo foi auxiliar no combate ao surto de Ebola da África Ocidental, o qual já dizimou milhares de pessoas. O surto, que teve início em dezembro de 2013, já registrou 10.236 mortes no total de 24.753 casos em Serra Leoa, Guiné e Libéria até o início do mês de março, de acordo com o relatório do programa Médico Sem Fronteiras.
Em resposta ao surto, várias iniciativas vêm acontecendo em escritórios da Thoughtworks ao redor do mundo, em parceria com outras organizações. Como exemplos de aplicativos desenvolvidos, temos o Ebola Ghana Alert, o mHero e o Ushahidi.
Seguindo os passos das pessoas que construíram tais aplicativos, decidimos montar nosso time da Thoughtworks Brasil e bolar algo que pudesse causar ainda mais impacto e salvar vidas nos países afetados. Decidimos organizar um hackathon para ter algo funcional em pouco tempo, dada a urgência da situação. O hackathon aconteceu nos dias 4 e 6 de novembro de 2014, com a duração de em torno de 4 horas além do turno de trabalho em cada um dos dias. Em outras palavras, o desafio foi desenvolver um aplicativo em cerca de 8 horas!
Entre todas as necessidades identificadas pelos agentes que trabalham nos países afetados, escolhemos desenvolver uma solução baseada em um dos problemas da ONG Save the Children.
Basicamente, a equipe médica precisava de um sistema para operar em seus acampamentos em Serra Leoa. Este vídeo (em inglês) mostra o acampamento, inaugurado dia 5 de Novembro.
Eles utilizaram uma implementação do OpenMRS, chamada Reference Application (a qual foi fortemente baseada no que a Thoughtworks construiu para o Hospital Mirebalais, no Haiti). No entanto, faltava uma funcionalidade essencial: o atendimento aos infectados com Ebola. Qualquer pessoa que opera no setor onde ficam as pessoas infectadas (conhecido como red-zone) precisa usar equipamento especial:
Os agentes de saúde que trabalham nessas red-zones têm 40 minutos para realizar o registro das informações relativas ao tratamento dos pacientes que se encontram no local. Qualquer objeto utilizado na red-zone precisa ser desinfectado, e qualquer papel, queimado. Tal fato, somado ao uso da vestimenta especial para proteção, limita o uso de qualquer equipamento eletrônico dentro dessa área, e dificulta muito a comunicação.
A solução pra isso foi desenvolver um aplicativo que funcione em tablets à prova da água. Esses tablets são desinfectados assim que o funcionário do centro de atendimento sai da red-zone.
Devido à situação critíca em que essas pessoas trabalham, era muito importante que o aplicativo fosse otimizado e fácil de ser utilizado por pessoas com pouca familiaridade com essa tecnologia. O fator que precisamos levar em conta foi: os agentes têm pouco tempo para ficar dentro das áreas de risco e eles utilizam muitas roupas e materiais de proteção que dificultam o uso de aparelhos eletrônicos. Por isso, ao criarmos o aplicativo, focamos no uso utilizando canetas stylus e pensamos na situação em que o usuário estaria com óculos protetores, muitas vezes embaçados pelo calor, e com luvas, que impossibilitam interagir com o tablet normalmente.
Nesses dois dias de hackathon, criamos um mini aplicativo em AngularJS, pensando exatamente nas pessoas que trabalham nessas condições.
Alguns dias antes, nos reunimos para uma sessão de design colaborativo, que nos foi bastante válida para unir as ideias e elaborar a primeira versão da interface.
Primeira versão das telas da aplicação:
A aplicação foi projetada pensando em pessoas com pouco conhecimento de uso de computadores e tablets. Por isso, precisava ser o mais intuitiva e fácil de usar possível. Utilizamos botões grandes, texto grande, bastante contraste, todos os controles da aplicação apenas com clicks, etc.
Nosso time consistiu de 6 desenvolvedores, 2 projetistas de experiência, 2 analistas de qualidade e 1 analista de negócios. Foram cerca de 10 horas intensas de bastante trabalho e muita cooperação.
Os testes de usabilidade realizados foram bem interessantes. Levamos em conta diversas condições que prejudicam a visão e a interação dos agentes de saúde com o tablet: equipamentos de proteção, suor, poeira e o pouco tempo para preencher todos os campos do formulário de paciente:
E abaixo temos algumas imagens de como ficou parte do trabalho que realizamos durante o evento:
No fim, o hackathon realizado na Thoughtworks Porto Alegre serviu como uma prova de que criar o aplicativo era possível, e de que valeria um maior investimento da Thoughtworks para a criação do módulo inteiro.
O deploy do aplicativo que aconteceu em fevereiro deste ano consistiu na integração de um novo módulo para a plataforma do OpenMRS, o Ebola Treatment Centre. Além do Brasil, esse módulo foi resultado do trabalho conjunto dos times espalhados em países por todos os continentes, literalmente: Austrália, China, Estados Unidos, Inglaterra, Uganda e Serra Leoa. Após o Hackathon, os times desenvolveram melhorias e novas funcionalidades em cima da base que construímos.
Além do deploy, contamos também com a presença do Dr. David Walton, Diretor Global de Iniciativas de Saúde da Thoughtworks, que foi um dos responsáveis pelo treinamento dos agentes de saúde que fariam o uso do aplicativo.
O resultado de todo trabalho cumpriu as expectativas dos nossos times: feedbacks extremamente positivos de usuários satisfeitos, e a certeza de muitas vidas salvas.
Aviso: As afirmações e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade de quem o assina, e não necessariamente refletem as posições da Thoughtworks.