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Thoughtworks além da tecnologia: como consolidar uma cultura de trabalho remoto efetivo

Atendendo à necessidade de mudanças culturais urgentes

De repente, o trabalho remoto chegou às reuniões das diretorias, tornando-se prioridade número um na lista de CEOs. A capacidade de CIOs de manter as pessoas trabalhando diante das restrições de viagens domésticas e internacionais provocadas pela crise do COVID 19 tornou-se essencial para os negócios.  

Entretanto, infelizmente poucas empresas já possuíam uma cultura de trabalho remoto pré-estabelecida e difundida. Em alguns casos, o trabalho à distância existe em pequenos grupos, departamentos específicos como os de TI ou em ocasiões especiais, mas dificilmente vemos práticas de trabalho remoto consolidadas de forma homogênea em uma organização. De certa forma, é algo surpreendente, dada a atual difusão da tecnologia em nuvem e a melhoria das conexões domésticas de banda larga. Além disso, estudos independentes nos dizem que o trabalho realizado em casa pode ser mais eficaz do que o trabalho diário no escritório: o professor de Stanford Nicholas Bloom, por exemplo, conduziu um estudo controlado de dois anos sobre os efeitos da produtividade do trabalho em casa e concluiu que o aumento da produtividade era equivalente a um dia inteiro de trabalho1. Diante disso, fica o questionamento: por que o trabalho remoto ainda não é tão difundido mesmo em condições favoráveis, como organizações que não atendem diretamente clientes ou o público?

Na Thoughtworks, aprimoramos ao longo de 25 anos nossa capacidade de trabalhar em equipes remotas e distribuídas. Trata-se, em boa parte, de uma questão de necessidade: nosso modelo de negócios se baseia em trabalhar com clientes de diferentes regiões do mundo a partir de escritórios distribuídos na Europa, Américas e Ásia. Mas foi a nossa cultura que nos deu a propriedade e a familiaridade em trabalhar de forma remota.  

Ter a capacidade tecnológica correta é absolutamente essencial para o trabalho remoto ser bem sucedido, apesar de não ser a parte mais complicada de se por em prática. O grande desafio está em tornar o trabalho remoto, predominantemente feito a partir de casa, eficaz e produtivo, e isso é alcançado abordando a mentalidade, o ambiente e o bem-estar.

Thoughtworks beyond the tech: Embedding a culture of effective remote working
Imagem: foto de mulher sentada em uma cadeira segurando o livro Understanding Design Thinking, Lean, and Agile

Uma mudança de mentalidade

A Thoughtworks é pioneira em cultura ágil, que não é apenas uma maneira de trabalhar, mas também uma forma de pensar: não é uma questão de fazer algo de forma ágil, mas sim de ser ágil. Nossos fundadores, que colaboraram com o Manifesto Ágil, construíram a organização em torno de princípios como desenvolvimento contínuo, estruturas horizontais e colaboração. Não temos hierarquias tradicionais com gerentes e processos rígidos. Em vez disso, focamos nos resultados e no desenvolvimento individual e coletivo, fornecendo às pessoas as condições necessárias para atingir esses resultados.
 
Para ter sucesso no trabalho remoto, precisamos ajustar mentalidades de forma institucional. Precisamos examinar nossos preconceitos, desenvolver nosso pensamento e habilitar em vez de desconfiar.

Pode existir uma pressão enorme sobre as pessoas trabalhando em casa para que estejam sempre online e disponíveis. Chefes que não conseguem contactar colegas imediatamente, por exemplo, podem suspeitar que estejam com a família ou em outra atividade não-relacionada à empresa. As pessoas podem se sentir culpadas, sem razão para tal, por fazer uma pausa para o almoço ou preparar um café. Trabalhar de casa pode ser estressante tanto para quem emprega quanto para as pessoas empregadas. Para ter sucesso com o novo cenário de trabalho remoto é preciso agir rapidamente, mas a mudança de mentalidade exige uma análise profunda e honesta sobre preconceitos e bloqueios individuais a respeito do assunto – dentro de organizações, isso exige um gerenciamento intencional de mudanças. 

Nós somos criaturas sociais. Somos preparadas ao longo da vida para lidar com contato físico. O fato de não poder conviver com colegas pode ser desconfortável e levar a formas não-saudáveis de microgerenciamento remoto. Hoje, várias ferramentas podem nos ajudar a criar uma sensação de "presença", mas o controle e a preocupação excessivos sobre o que outras pessoas estão fazendo podem prejudicar a confiança e criar um ambiente tenso.

Não podemos simplesmente dizer às pessoas que mudem de ideia da noite para o dia, embora, dadas as mudanças drásticas que estamos vivendo no momento, pareça provável que mais e mais líderes passem a refletir sobre suas práticas atuais de trabalho. Podemos começar refletindo sobre nossa própria mentalidade e encorajando outras pessoas a fazerem o mesmo. Seguem abaixo algumas práticas que podemos adotar:
  • Compreender e optar por abordagens de gerenciamento baseadas em resultados;
  • ​Garantir que estamos engajando e apoiando pessoas de maneira eficaz, em vez de apenas monitorar a sua "presença";
  • Conversar com nossas equipes e perguntar como elas estão gerenciando suas atividades, trabalhando juntas em quaisquer eventuais desafios.
A tendência de fazer todas as pessoas migrarem para um único local de trabalho todos os dias é compreensível. Isso se deve ao fato de que é assim que trabalhamos há séculos; é assim que tínhamos que trabalhar. Hoje, nossa realidade é um mundo muito diferente. A tecnologia evoluiu para remover motivos práticos de irmos ao escritório. Laptops potentes e confiáveis, softwares de videoconferência, computação em nuvem e ferramentas colaborativas com possibilidade de "bate-papo", como Google Docs ou Microsoft Teams, tornam muito mais fácil o trabalho remoto em time.

Boa parte da força de trabalho atual viveu a evolução tecnológica e digital, mas não nasceu “nativa digital”. As pessoas que hoje têm por volta dos seus 50 anos de idade viram o surgimento gradual do laptop, mas antes disso as coisas eram basicamente feitas com papel e caneta ou uma máquina de escrever. As que hoje têm em torno de 40 anos viram o rápido crescimento da Internet, mas ainda usaram papel e caneta na universidade. Em suma, queremos dizer que a maior parcela de nossa força de trabalho se sente mais à vontade no mundo físico, offline. Essas pessoas que viveram a evolução tecnológica estão passando por uma curva de mudança de forma mais lenta que gerações mais novas, porque estas já estão familiarizadas com todas essas novidades desde os primeiros anos de vida. Além disso, gerações mais velhas sofrem uma maior influência cultural de pessoas que não conviveram com quase nenhuma dessas tecnologias. Uma mudança de mentalidade não acontece da noite para o dia, mas reconhecer essa necessidade de mudança é um excelente começo.

Criando um ambiente favorável

Embora as organizações precisem abordar suas crenças e dar maiores direcionamentos sobre o trabalho remoto, a pessoa que vai trabalhar de sua casa também tem sua responsabilidade na construção de uma relação de confiança, criando um ambiente em que possa ser produtivo.

É fato que muitas das casas estão cheia de tentações e distrações. As crianças podem pedir ajuda com as tarefas da escola, lanches ou quaisquer outras necessidades de atenção. O cachorrinho de estimação pode encarar seu dono até que seja notado e levado para uma volta pelo quarteirão. Não faltam desafios para manutenção do foco e da atenção.
 
As pessoas são responsáveis por avaliar suas condições de trabalho em casa, com o intuito de criar um ambiente favorável à produtividade.

Trouxemos abaixo alguns exemplos de como as organizações podem ajudar com isso:
  • Incentivar gerentes a conversar com as equipes sobre onde e como elas funcionam melhor. Respeitar os estilos de trabalho individuais e as preferências sobre ambientes. É importante ajudar as funcionárias a encontrar um lugar onde possam de fato trabalhar;
  • Pensar na jornada de trabalho. Se for possível, flexibilizar horários de início e de término das atividades, considerando diferentes estilos de trabalho e outras rotinas pessoais;
  • Criar uma cultura de intervalos planejados, incentivando as pessoas a reservar momentos sem trabalho para focar em assuntos pessoais, como atividades domésticas ou conversas com familiares.
Se nossas casas estão cheias de distrações, o mesmo acontece com os escritórios. Interrupções – pessoas aparecendo em sua mesa quando você está escrevendo um relatório, por exemplo – resultam em perda de concentração. A produtividade é sempre atingida pela alternância de contexto. O ambiente doméstico geralmente pode ser mais pacífico e controlável, embora nesse momento de adaptação isso não pareça verdade. Se as pessoas quiserem fugir das responsabilidades do trabalho, provavelmente conseguirão fazer isso com a mesma facilidade em um escritório. Ao construir uma cultura de confiança e autonomia, com metas orientadas a resultados, elas trabalharão o tempo necessário para desempenhar bem o seu papel, com ou sem alguém para observá-las.

Na Thoughtworks, as pessoas não têm gerentes tradicionais; em outras palavras, não há uma pessoa responsável por definir ou garantir que outra pessoa esteja trabalhando. Como garantimos, então, que nossos compromissos em projetos com clientes sejam mantidos?
  • Formando uma equipe em que todas as pessoas compreendam seu papel e a contribuição necessária dele;
  • Criando uma equipe de liderança para engajamento com clientes (Client Leadership Team), cuja função é garantir que a equipe esteja entregando os resultados necessários. Essa equipe aborda quaisquer problemas e, se necessário, facilita a investigação de suas causas;
  • Resolvendo coletivamente os problemas do time;
  • Definindo pessoas "cultivadoras" para cada membro do time, responsáveis por dar suporte não só nas atividades do dia-a-dia, mas principalmente nas jornadas profissionais de forma geral.

Trabalhar de casa apresenta flexibilidade e oportunidade para maximizar o valor das nossas entregas individuais. Isso exige que abordemos nossas regras e suposições estabelecidas. Precisamos repensar tais normas e nos adaptar a uma nova realidade para criar o melhor resultado, tanto para a organização como para o indivíduo.

Promovendo – e protegendo – o bem-estar

Se nós pudermos abraçar o conceito do trabalho remoto viabilizado pela tecnologia e aceitarmos que as pessoas terão maturidade para gerenciar seu tempo e seu ambiente para entregar valor com o seu trabalho, a próxima discussão a ser considerada é o bem-estar.
 
Trazer o ambiente de trabalho para dentro de casa apresenta desafios físicos e mentais únicos.  

O bem-estar das pessoas funcionárias é um fator-chave em sua produtividade e performance. É fácil entender que, sem o estresse do deslocamento diário, trabalhar de casa implica pessoas mais relaxadas – talvez relaxadas demais, algumas pessoas podem argumentar. Porém, tem sido provado que trabalhar de casa reduz o estresse e contribui para termos pessoas mais saudáveis2, embora tanto a saúde mental quanto a física precisam ser gerenciadas.  

Estar em casa pode levar a sentimentos de solidão e isolamento sem o adequado suporte de estruturas apropriadas, então a saúde mental precisa ser priorizada na agenda de todo mundo. Pessoas funcionárias precisam saber que o suporte está disponível para elas não importando onde elas estejam.  

A Thoughtworks adapta sua estratégia de engajamento para atender a sua força de trabalho, em grande parte remota. Pesquisas regulares de clima organizacional são aplicadas para aferir como as pessoas estão se sentindo, contando com feedback regular em vez de avaliações de desempenho e relatórios tradicionais. Nós também mantemos eventos sociais virtuais depois do trabalho para consolidar o conceito de que as noites são para eventos sociais. Focando nos resultados e não apenas na presença, as pessoas se sentem habilitadas a organizar sua jornada de trabalho contemplando intervalos regulares, o que é importante para a saúde física e mental.

Pequenos intervalos, como sair para uma corrida, passear com o cachorro, dar um pulo em uma loja – mesmo durante as horas de trabalho – têm se mostrado benéficos ao bem-estar e à produtividade. Compare isso aos pequenos intervalos em que as pessoas fazem visitando a cozinha ou cantina do trabalho, provavelmente sendo abordadas por colegas para uma conversa rápida durante a visita. Encorajar as pessoas a descansar seus olhos por conta da longa exposição à tela do computador e esticar suas pernas contribui para a produtividade. Uma vez que uma organização tenha implementado a cultura do trabalho orientado a resultados, as lideranças não precisam se preocupar com as horas exatas em que uma pessoa trabalha.

Thoughtworks beyond the tech: Embedding a culture of effective remote working
Imagem: foto de homem passeando com um cachorro em uma trilha

Para otimizar a performance das pessoas, portanto, as lideranças podem precisar mudar seu comportamento e suas expectativas para apoiar uma força de trabalho remoto efetiva. Aqui estão quatro coisas que organizações podem fazer para se adaptar a "nova norma":
  • Reorientar seus times de Pessoas e Recursos Humanos em estratégias e ferramentas de engajamento remoto
  • Colocar a saúde mental no topo da lista de prioridades, ao invés de mantê-la como um assunto tabu ou como missão exclusiva de determinadas pessoas, promovendo discussões regulares em encontros e encorajando discussões honestas
  • Certificar-se que as pessoas estão se "desligando do trabalho" em horários razoáveis e mantendo a separação entre a casa e rotina de trabalho ao definr limites de horas de trabalho esperadas.
  • Encorajar as pessoas a se manterem ativas e fisicamente saudáveis.

Fazendo a mudança

A Thoughtworks não está sozinha na competência e na cultura de trabalho remoto. Existem bons exemplos de organizações que minimizam ou mesmo eliminam as diferenças entre trabalho presencial e remoto. É certamente uma prática comum em organizações modernas centradas em tecnologia, como as Amazons e Googles mundo afora. Esse é o futuro do trabalho – um ambiente em que a geração digital nativa irá prosperar.

É um futuro que, entretanto, chegou abruptamente. A curva de mudança para a cultura de trabalho remoto foi indiscutivelmente acelerada, mas alcançar mudanças efetivas e duradouras vai além de configurar a tecnologia. Isso vai requerer ajustes culturais intencionais e consideração de novas políticas, processos, habilidades de gerenciamento e ferramentas..

Amanhã nós poderemos contemplar os benefícios de produtividade que o trabalho remoto pode trazer em longo prazo. Hoje nós não temos escolha. Estamos encarando uma necessidade intensa e prolongada de fazer todo o trabalho de casa em um momento em que a economia está sofrendo. Portanto, é mais importante do que nunca – mesmo não nos considerando inteiramente preparadas para o trabalho remoto – que todas nós tenhamos certeza de que estamos constantemente verificando nossa mentalidade e ajudando as pessoas a trabalhar remotamente com sucesso, sendo produtivas e felizes.

 1Professor Nicholas Bloom - TED Talk 2017
 2Professor Nicholas Bloom - TED Talk 2017
 

Aviso: As afirmações e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade de quem o assina, e não necessariamente refletem as posições da Thoughtworks.

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