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Deaf diversity in a team: how a deaf person and a hearing person can pair up

Diversidade surda em equipes:

como uma pessoa surda

e uma ouvinte podem parear

Meu nome é Ismael, trabalho com tecnologia da informação há 16 anos e sou formado em Ciência da Computação. Ingressei na Thoughtworks Brasil em abril de 2018. Antes disso, trabalhei em outras cinco empresas.

 

A diferença mais significativa entre a Thoughtworks e outros trabalhos foi que, pela primeira vez, senti que fazia parte do processo de desenvolvimento de software. Meus colegas de trabalho – não apenas da equipe, mas Thoughtworkers em geral – realmente mostram empatia pela minha jornada. São pessoas que sabem como fazer que outras pessoas se sintam valorizadas, e se esforçam para se adaptar ao que for necessário.

 

Ao longo da minha carreira, muitas vezes me senti pressionado a me adaptar às equipes e tinha muita dificuldade para obter apoio e me comunicar. Na Thoughtworks, percebo que ajudar colegas a crescer e criar impacto no mundo faz parte dos objetivos de carreira de todas as pessoas.

 

"Sinto que todo mundo está conectado de alguma forma. Sinto que sou bem-vindo e que pertenço aqui."

 

A motivação para escrever este post no blog é ajudar as equipes que desejam incluir pessoas surdos, compartilhando os desafios e aprendizados que tivemos até agora com essa experiência.

 

E para me ajudar a contar essa história, convidei os membros da minha equipe Jean Bauer (desenvolvedor) e Graziela Pereira (que era a gerente de projeto do projeto e atualmente trabalha como people partner). Abaixo estão alguns dos temas que discutimos:

 

 

Preparativos da equipe para receber uma pessoa surda

 

Graziela: Tínhamos uma oportunidade para uma pessoa desenvolvedora no time e havia um desenvolvedor disponível na empresa com as capabilities necessárias, era uma pessoa surda, o Ismael. Conversamos muito sobre como poderíamos nos preparar para garantir um bom onboarding para ele, como envolver o cliente neste processo e garantir que a comunicação seria efetiva. Algumas pessoas do time começaram a fazer aulas de LIBRAS e semanalmente, passamos a compartilhar na equipe situações de nossa vida pessoal em LIBRAS. Eram frases curtas, mas era muito divertido e ficávamos muito à vontade para errar e perguntar para quem sabia um pouco mais. Quando o Ismael chegou, não tínhamos mais receio de falar em LIBRAS, e descobrimos que não teríamos como fazer o onboarding dele sozinhos, precisávamos fazer juntos. Para envolver o cliente falamos da cultura da nossa empresa, falamos da importância de termos times diversos e o quanto se cresce assim. Tratamos tudo de uma forma bem natural, como de fato acreditávamos que era, garantindo que a comunicação estava acontecendo. No início, com intérprete durante todo o dia, depois fomos, aos poucos, diminuindo este tempo e passamos a exercitar nossos aprendizados em LIBRAS.

 

 

Juntando-se ao time 

 

Quando entrei no projeto, minha maior preocupação era não conseguir acompanhar o trabalho de colegas. Também temia que nossas trocas se reduzissem às questões técnicas envolvendo o projeto, e que eu não fosse integrado socialmente ao grupo.

 

Esperava que pudesse desenvolver novas habilidades técnicas e estar mais conectado com as novas tecnologias que vêm sendo descobertas. Ter contato com colegas experientes em linguagens diferentes das que eu tinha domínio era algo que eu esperava do projeto e pensava que me ajudaria a evoluir enquanto desenvolvedor. Algo que me chamou atenção, logo que conheci o Jean foi o orgulho e a motivação com a qual falava sobre o projeto.

 

Ismael e Jean pareando

Como é parear com uma pessoa surda?

 

Jean: Quando comecei a parear com o Ismael eu mal sabia LIBRAS, então tive que usar muito o teclado para digitar o que eu queria comunicar. Isso fez com que tivéssemos muitas falhas de entendimento sobre o que estávamos conversando. A única dificuldade do Ismael com o projeto era a tecnologia envolvida, é a primeira vez que ele trabalha com JS. Além disso, também é a primeira vez dele trabalhando com um time ágil, como consultor e escrevendo código em inglês (que não é sua primeira, tampouco segunda língua), todos desafios que qualquer pessoa teria, ouvinte ou não. Eu e ele começamos a aprender LIBRAS praticamente ao mesmo tempo. Depois de um certo tempo pareando, fui aprendendo mais sinais e me vi conversando sobre o final de semana quase sem precisar soletrar algo.

 

 

Como é parear com uma pessoa ouvinte?

 

Parear como Jean foi uma experiência muito interessante e positiva. Através da empatia e das ferramentas tecnológicas disponíveis, conseguimos nos comunicar e desenvolver profissional e pessoalmente. Dessa forma, conseguimos desempenhar nossas atividades em um ambiente de trabalho no qual se fazem presentes a igualdade e o respeito ao próximo. Me senti muito à vontade para tirar dúvidas e dividir com ele acontecimentos do meu dia a dia.

 

 

Durante o projeto

 

Não existiu medo algum. O time no qual trabalhei esteve sempre disposto a me ajudar caso houvesse alguma dificuldade imposta pela minha deficiência auditiva. Em alguns momentos, percebi que ainda tínhamos dificuldade em relação à comunicação em LIBRAS e leitura labial. Entretanto, com o passar do tempo, nos adaptamos. O auxílio da intérprete foi de fundamental importância para que pudéssemos manter uma comunicação que nos possibilitasse trabalhar juntos enquanto equipe.

 

 

Aprendizados importantes

 

Comunicação: Na maioria dos casos, a primeira língua de uma pessoa surda é a língua de sinais do seu país, que é fundamentalmente diferente de ter o português ou o inglês como primeira língua. Uma boa experiência de comunicação depende de empatia e apoio. Intérpretes podem ajudar a equipe a se comunicar, mas essa não deve ser a única maneira de se conectar com uma pessoa surda. A equipe deve sempre fazer um esforço para falar devagar, escrever frases em um pedaço de papel ou em um computador ou soletrar palavras em linguagem de sinais. É importante sempre verificar e validar se todas as pessoas entenderam a mensagem com clareza.

 

Reuniões remotas: Fixar o vídeo da pessoa intérprete (a pessoa anfitriã da reunião pode fazê-lo) facilita a identificação para a pessoa surda. Além disso, a equipe deve usar e prestar atenção ao recurso de levantar a mão. É sempre uma boa ideia compartilhar as notas da reunião com a equipe posteriormente.

 

Jornada de crescimento: Compreender as capacidades e expectativas individuais permite que as lideranças de equipe cocriem um plano focado nos pontos fortes e nas áreas de desenvolvimento da pessoa.

 

 

Dicas úteis

 

  • Incentive a equipe a conhecer e se adaptar à cultura surda;
  • Não cubra a boca ao falar;
  • Evite usar gírias ou expressões regionais;
  • Posicione-se de frente para a pessoa surda;
  • Respeite suas limitações e procure auxiliar no que for necessário;
  • Seja paciente ao se comunicar;
  • Recursos visuais como o desenho podem ser grandes aliados para melhorar a comunicação (ferramentas como Mural ou Draw.io podem ser úteis);
  • Garanta que as pessoas surdas tenham oportunidades e espaço para se expressarem, de forma que a comunicação não se torne uma via de mão única;
  • Apenas uma pessoa deve falar de cada vez;
  • Se estiver falando português, evite usar palavras em inglês (pois dificulta o acompanhamento do intérprete);
  • Antes das reuniões, compartilhe com a pessoa intérprete os temas que serão abordados, permitindo que ela se prepare;
  • É importante ter mais de uma pessoa que possa interpretar em língua de sinais na equipe para que a equipe não fique dependente de um intérprete;
  • Criar uma rotina diária de prática/exercícios de língua gestual que envolva toda a equipe;
  • Crie um dicionário de termos que façam sentido para a equipe (como nomes de serviço, aplicativos, cerimônias e assim por diante), pois soletrar tudo pode levar algum tempo. Este é um exemplo.

 

 

Considerações finais

 

Quando entrei no time, expliquei como poderiam me ajudar a melhorar. e dei dicas para intérpretes de como seria uma comunicação efetiva comigo. Ao começar a trabalhar com o time, eu me senti confortável e seguro. Eu confio no time, existe um respeito e valorização mútua dentro da equipe.

 

Jean: Eu sinto que quando eu interpreto para o Ismael eu consigo passar o contexto correto do que as pessoas estão falando, exemplo: Nome de aplicações, API’s e outras palavras do nosso dia-a-dia. Quando comecei a aprender LIBRAS achava difícil que eu fosse conseguir me comunicar, mas depois de fazer algumas aulas e com o convívio com o Ismael pude ver que iria ser tranquilo.

 

"O time deve se adaptar à pessoa, e não o contrário."

 

Gostaria de agradecer também à nossa amiga e intérprete Raquel Souza por contribuir com algumas dicas deste artigo e por nos acompanhar nesta jornada.

Aviso: As afirmações e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade de quem o assina, e não necessariamente refletem as posições da Thoughtworks.

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